Uma das componentes mais importantes da análise BREEDPLAN é a possibilidade de comparar os EBVs entre animais que são explorados em condições ambientais diferentes. Isto é possível através da “ligação genética” (genetic linkage).
Essa ligação estabelece-se pelo uso dos mesmos toiros (e.g. toiros em inseminação artificial) nas diferentes explorações, desde que estas tenham dados de performance registada dos descendentes. O toiro que faz a ligação genética (link sire) é utilizado como termo de comparação entre Grupos Contemporâneos (GC) da mesma exploração ou entre explorações/criadores.
Ao nível da exploração/rebanho, o uso de toiros permite a ligação genética entre GC, assim como as mães também adicionam pelo histórico do rebanho.
Abaixo um exemplo que demostra a importância da ligação genética quando se compararam GC em condições nutricionais diferentes.
Considere-se 3 grupos contemporâneos:
GC1 – plano nutricional pobre
GC2 – plano nutricional bom
GC3 – plano nutricional médio
SITUAÇÃO 1
A figura 1 abaixo apresenta o peso médio (performance) ajustado dos filhos de cada toiro utilizado nos grupos contemporâneos aos 400 dias de idade.
Figura 1. Média ajustada da descendência em 3 planos nutricionais diferentes
Adaptado de ABRI
No exemplo acima, cada grupo tem um pai (toiro) diferente sendo impossível fazer uma comparação válida acerca da performance dos GC, porque: a) não existe nenhum toiro comum (i.e., que faça a ligação genética) entre os grupos e b) foram explorados em condições ambientais (i.e., nível nutricional) distintas.
SITUAÇÃO 2
No exemplo abaixo (fig. 2), existe um toiro comum (i.e., toiro que faz ligação) utilizado em inseminação artificial nos 3 grupos. Deste modo passa a haver uma ligação genética entre GC sendo possível que este toiro seja o referencial para comparação.
Figura 2. Média ajustada da descendência em 3 planos nutricionais diferentes comparada com a média de performance ajustada do toiro de ligação (Kingdom)
Adaptado de ABRI
A descendência do Kingdom no GC1 tem um peso ajustado aos 400 dias de 290kg, a do GC2 de 390kg e a do GC3 de 300kg. Fazendo a comparação: a descendência do toiro A tem um peso ajustado aos 400 dias de 300kg, do toiro B de 380kg e do toiro C de 320kg. Para o propósito deste exemplo assume-se que a mães têm a mesma média de EBVs (i.e. mérito genético) para o peso aos 400 dias (400WT).
No Grupo Contemporâneo do toiro A, a descendência é mais pesada que o KINGDOM. No Grupo Contemporâneo do toiro B, a descendência é em média mais pesada do que o A mas não foi superior ao do Kingdom. No Grupo Contemporâneo do toiro C, a descendência foi significativamente mais pesada do que o Kingdom.
As diferenças nos pesos médios dos animais com diferentes planos nutricionais são ilustradas na tabela 1 abaixo:
Comparações diretas | Comparações indiretas |
A vs Kingdom = +10KG | A vs B (+10kg +10kg) = +20kg |
B vs Kingdom = -10kg | B vs C (+10kg -10kg) = -10kg |
C vs Kingdom = +20KG | B vs C (-10kg -20kg) = -30kg |
Tabela 1: Diferenças nos pesos médios da descendência com diferentes planos nutricionais
Adaptado de ABRI
A figura 3 demonstra como o BREEDPLAN tem em conta diferenças nas condições ambientais para GC diferentes quando utilizado um toiro comum como referencial. As diferenças nos pesos médios da descendência dos toiros utilizados na cobrição natural (i.e. A, B e C) em comparação com a descendência do Kingdom.
Figura 3: Diferenças nos pesos médios da descendência com diferentes planos nutricionais
Adaptado de ABRI
A figura mostra que embora os pesos médios dos filhos do toiro B sejam superiores aos dos toiros A e C, estão, no entanto, 10kg abaixo da descendência do Kingdom.
Por outro lado, os filhos do toiro A são em média mais pesados 10kg que a descendência do Kingdom e a do toiro C está 20kg acima da média do peso dos filhos do Kingdom para o peso aos 400 dias.
Se assumirmos um grande número de filhos para cada toiro, o EBV para os 400 dias (400WT) será o dobro da sua descendência. Isto porque apenas passam metade dos genes aos filhos e a outra metade pelas mães.
Se ignorarmos, apenas como exemplo, a genética de cada um dos toiros, os EBvs resultantes para o caractere 400WT seriam:
Toiro A | Toiro B | Toiro C | Kingdom | |
EBVs | +20 kg | -20 kg | +40 kg | 0 kg |
Tabela 2: Os EBVs resultantes para os toiros utilizados, assumindo que a mãe dos vitelos tem mérito genético igual para o caractere Peso aos 400 dias (400WT)
Adaptado de ABRI
O exemplo da tabela 2 assume que o Kingdom tem um EBV de valor zero, um número razoável de filhos foi medido e que as mães têm mérito genético igual para o peso aos 400 dias (mesma média de EBVs). São feitos ajustamentos, caso as mãe tenham médias de EBVs diferentes para o caractere medido.
Se pelo contrário, o número de filhos não é suficientemente grande, os EBVs serão menores do que o dobro da diferença da progénie, uma vez que o BREEDPLAN faz “previsões cautelosas”.
O “fator de escala” depende do número de filhos do toiro de cobrição e do toiro usado na ligação genética, assim como da hereditariedade do caractere.
BREEDPLAN (http://breedplan.une.edu.au/index.php)
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